Homenagem é a mais importante do Xingu e aborda temas como morte e o luto, ao mesmo tempo que entes queridos são lembrados.
O presidente Lula (PT) sancionou, nessa terça-feira (18), um projeto de lei que torna a cerimônia indígena Kuarup, ritual indígena do Xingu, em Mato Grosso, manifestação da cultura nacional. A lei já está em vigor, desde a data de publicação.
O projeto de Lei (PL 6.177/2019) foi apresentado pela deputada professora Rosa Neide em 2019 e aprovado pela Comissão de Educação e Cultura (CE).
O Kuarup reúne diversas etnias do Alto Xingu e é realizado entre agosto e setembro no Parque Nacional do Xingu, no norte do estado. No ritual, são abordados temas como a morte e o luto, ao mesmo tempo que entes queridos são homenageados.
A cerimônia do Kuarup alterna entre momentos de luto e celebração da vida, a fim de refletir a filosofia indígena de que a existência e a convivência harmoniosa em comunidade são essenciais após a perda de entes queridos. O auge da cerimônia acontece quando troncos de árvore são lançados simbolicamente na água, representando a despedida e a transcendência.
A celebração representa uma prática religiosa que destaca a figura de Mavutsinim, a divindade criadora, que, segundo a tradição, moldou o mundo e os primeiros homens a partir dos troncos da árvore Kuarup.
Elementos simbólicos, como os troncos ornamentados e a interação com a natureza ao redor, desempenham papel essencial nesse ritual, que busca honrar os ancestrais e fortalecer os laços e a coesão social da comunidade.
Ritual já homenageou Glória Maria
Glória se tornou a primeira mulher de fora da aldeia a receber a homenagem mais importante do Xingu. O ritual celebrado pelos povos da região do Xingu de 2023 teve uma homenageada especial: Glória Maria.
Em 2007, Glória foi até lá e conheceu as tradições dos indígenas Kamaiurá. As filhas da Glória, Laura e Maria, viajaram ao local para viver as emoções da cerimônia do Kuarup, na mesma aldeia que recebeu a mãe delas, 16 anos atrás.
A família da Glória Maria aceitou sem esforço o convite para o ritual. Maria e Laura repetiram o trajeto da mãe até o Xingu e participaram da cerimônia, rica em significados e sentimentos, feita para ajudar a superar a ausência de pessoas importantes.
“No começo eu estava meio nervosa. E aí, assim que foi a primeira… o balde de água, eu fiquei bem mais aliviada. Aí na segunda fiquei mais… Na terceira eu fiquei completamente bem”, conta Maria Matta, filha da Glória.