Andreson de Oliveira Gonçalves, apontado como lobista pela PF, disse em conversas com integrantes do esquema que poderia movimentar milhões de reais por dia sem chamar atenção das autoridades.
Um relatório preliminar da Polícia Federal (PF) apontou que o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves utilizava a empresa Florais Transportes como parte de um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro que supostamente viria da venda de sentenças judiciais. Segundo o documento, o grupo articulava uma rede de intermediários que facilitava a movimentação de milhões de reais por dia nas contas da transportadora.
A reportagem a defesa de Andreson disse que “está definitivamente comprovado que só a defesa segue a regra do sigilo imposto à investigação”.
De acordo com as investigações, Andreson, apelidado de “mestre dos magos” em conversas interceptadas com seus articuladores, afirmava ter condições de movimentar valores expressivos sem levantar suspeitas.
A Florais Transportes, adquirida pelo lobista em 2013, é apontada como o principal núcleo financeiro do esquema, segundo a PF. Em diálogo com uma pessoa identificada como “Aline Novo”, Andreson teria dito que “recebe muito na conta da transportadora e lança como STE de frete”, mencionando transações que poderiam chegar a R$ 10 milhões ao dia.
💰Como funcionava o esquema?
Segundo o relatório, o esquema de lavagem de dinheiro se sustentava em dois pilares principais:
- Baixa rastreabilidade: a execução de serviços de transporte dificulta auditorias detalhadas sobre cada viagem, carga ou rota;
- Flexibilidade documental: o uso de descrições genéricas em notas fiscais e contratos que possibilitava a emissão de documentos frios, conferindo aparência de legalidade a operações fictícias e reduzindo o risco de detecção.
As apurações apontam que as condições ideais para o funcionamento do esquema envolviam a aparente legitimidade da movimentação de valores altos, quanto pela capacidade de formalizar contratos milionários sem levantar suspeitas imediatas nos sistemas de controle financeiro.
Conforme o relatório, os contratos simulados eram usados para justificar a emissão de notas fiscais falsas, com descrições genéricas como “fretes interestaduais” ou “transporte de cargas diversas”. O dinheiro ilícito era então inserido nas contas da empresa por meio de transferências bancárias aparentemente regulares.
A investigação destacou que quanto mais elevado o cargo do agente público, mais sofisticados são os mecanismos criados para apagar qualquer conexão entre a vantagem indevida e a decisão judicial.
Extratos bancários levantados pelos agentes comprovaram que o advogado Roberto Zampieri, morto em 2023, transferiu R$7.180.000,00 entre 2019 a 2023 para a conta da empresa, em depósitos de R$ 50 mil a R$ 2 milhões, “configurando fase de introdução da lavagem de capitais por intermédio da Florais Transportes.”
Na conclusão do relatório, o delegado Marco Bontempo entendeu que a análise financeira revelou que o esquema funcionava por meio de um grupo de beneficiários que usava transferências fracionadas e frequentes para dificultar a identificação das movimentações. Além do uso de linguagem cifrada, codinomes, contatos e documentos falsos de aplicativos, aparelhos destinados a ocultar a origem do dinheiro e a identidade dos envolvidos.
Relembre o caso
Em prisão domiciliar desde julho quando o Supremo Tribunal Federal (STF), atendeu o pedido da defesa devido ao estado crítico de saúde o lobista. Andreson de Oliveira Gonçalves é apontado como intermediador de vendas de sentenças em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ele foi preso em novembro de 2024.
Andreson é dono de empresas no ramo de transporte em vários estados do país e levava uma vida discreta, sem redes sociais. O nome dele veio a público após ser alvo das Operações Última Ratio e Sisamnes, que afastou magistrados nos dois estados e apontou o lobista como uma peça importante para o esquema.
As investigações começaram em agosto de 2024, após mensagens no celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado a tiros em 2023, levantarem a suspeita de venda de decisões e levarem ao afastamento dos desembargadores de Mato Grosso, Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho.
Pelas conversas, a Polícia Federal apontou que o lobista seria um dos responsáveis por aproximar o advogado de Sebastião e João. As investigações seguem em andamento.



